Modo como mídias sociais funcionam hoje requer autorregulação e legislação, diz Barroso

Reuters

Publicado 22.06.2022 14:44

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta quarta-feira que as mídias sociais se tornaram canais de propagação de ódio, ataques e desrespeito, e que precisam de normas e autorregulação, sob pena de perderem receita caso passem a ser vistas como meios destrutivos da democracia.

Barroso fez uma defesa dos meios tradicionais de comunicação e de imprensa, e frisou que as redes sociais, por um lado, ajudaram a democratizar a informação e o conhecimento, mas, por outro, também amplificaram a voz de grupos radicais e que contestam "até aquilo que é fato".

Para o ministro, as redes sociais deram espaço para posições mais extremistas e intolerantes.

"Sou um militante intenso pelo resgate de um civilidade na vida brasileira e na vida mundial, o que de certa forma as mídias sociais contribuíram para diminuir. Não naturalizar o ódio, o desrespeito ao outro, é um projeto que os de bem vão ter que investir. Estamos vivendo um déficit civilizatório, no Brasil especialmente", disse ele em evento da Escola de Magistratura no Rio de Janeiro.

"O que vemos na mídias sociais é que a informação falsa, o ódio e o sensacionalismo trazem muito mais engajamento do que o discurso racional, respeitoso e civilizado. E como essas empresas se remuneram por quantidade de acesso, e como a publicidade migrou para mídias sociais, você acaba tendo o incentivo errado que é ampliar o negativo, o ódio, o sensacionalismo e a radicalização", acrescentou.

Segundo o ministro, as mídias sociais podem ter perdas de receita e de imagem se esse ambiente negativo se perpetuar.

"Essa é a contradição que precisamos enfrentar com legislação e com autorregulação das plataformas, que têm perdas de imagem no futuro e comprometimento de suas potencialidades se forem vistas destrutivas da democracia e da vida civilizada. Portanto é preciso um arcabouço legislativo. Mas não sou fã de Estado interferindo na liberdade de expressão, portanto, gostaria que não houvesse um censura privada, mas critérios objetivos e livre iniciativa das plataformas".

O ministro lembrou que os jornais impressos, nos momentos de apogeu, tinham uma tiragem diária de até 400 mil exemplares no Brasil, enquanto as novas mídias, como YouTube, Facebook (SA:FBOK34)(NASDAQ:META) e WhatsApp, têm bilhões de membros. Ele lembrou que essas plataformas não param de crescer, enquanto a mídia tradicional, que abastece as redes com conteúdo sem serem remuneradas, está cada vez mais enxuta.