Tribos da Amazônia entram na era digital para defender cultura e floresta

Reuters

Publicado 17.01.2020 10:03

Por Leonardo Benassatto

PARQUE INDÍGENA DO XINGU, Brasil (Reuters) - Nos anos 1980, o primeiro parlamentar indígena do Brasil, o cacique xavante Juruna, circulava com um gravador para registrar conversas com outros políticos porque dizia que a palavra do homem branco não era confiável.

Na era digital, ameaçadas pela destruição de sua floresta e pela invasão da agricultura em suas terras, as tribos brasileiras estão publicando vídeos nas redes sociais e filmando com câmeras instaladas em drones para contar sua história e fortalecer sua ameaçada cultura.

Em uma reunião de centenas de líderes tribais amazônicos realizada nesta semana na reserva do Xingu para debater maneiras de resistir a planos do governo para os povos indígenas, cada discurso e dança ritual são gravados e compartilhados na internet.

A Mídia Índia, uma rede que se classifica como a voz do povo indígena, publica notícias e imagens no Instagram e podcasts no Spotify (NYSE:SPOT) para ajudar a manter os 850 mil indígenas do país informados.

Erik Terena, um de seus organizadores, disse que isso se tornou uma tarefa mais urgente do que nunca desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que afirma que os povos indígenas não deveriam ser mantidos "como animais em um zoológico" e que pretende abrir reservas ao garimpo e à agricultura.

"Estamos vivendo sob um governo que usa notícias falsas e mente para prejudicar a população indígena", afirmou. "Estamos tendo que lutar contra uma nova colonização recorrendo à etnomídia para contar a verdade sobre nós", explicou Erik, membro da tribo terena.

Bolsonaro diz que seu plano para desenvolver a Amazônia tirará os povos indígenas da pobreza. Ambientalistas alertam que isso acelerará a destruição da maior floresta tropical do mundo, que é uma defesa contra a mudança climática.

A Mídia Índia começou como um canal de comunicação audiovisual para fortalecer as identidades culturais indígenas, segundo Erik.