Impasse com EUA por votação na ONU aumenta pressão sobre coalizão de Netanyahu

Reuters

Publicado 26.03.2024 12:40

JERUSALÉM (Reuters) - O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enfrentou tensões crescentes em sua coalizão nesta terça-feira, depois que um impasse com os Estados Unidos piorou as divergências internas sobre a proposta de recrutamento de judeus ultraortodoxos para as Forças Armadas.

A imprensa israelense informou que uma reunião do gabinete para discutir as mudanças planejadas na lei de recrutamento havia sido cancelada, faltando apenas alguns dias para o governo apresentar as propostas à Suprema Corte. Questionado sobre as reportagens, um assessor de Netanyahu disse que um encontro do gabinete ainda não havia sido agendado.

O adiamento ocorreu um dia após o rompimento das relações de Netanyahu com o presidente dos EUA, Joe Biden, devido à decisão de Washington de não vetar uma resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) por um cessar-fogo imediato em Gaza.

Em meio à crescente pressão internacional para o fim dos combates e dos planos israelenses de lançar um ataque terrestre à cidade de Rafah, no sul de Gaza, Netanyahu cancelou uma visita programada a Washington por dois de seus assessores mais graduados, que deveriam ouvir as ideias dos EUA sobre alternativas operacionais.

A demonstração aberta de desafio ao mais forte aliado de Israel foi bem recebida por seus parceiros de coalizão religiosos e nacionalistas, mas implicitamente criticada pelo ex-ministro da Defesa Benny Gantz, que se juntou ao gabinete de guerra no ano passado e que disse que a delegação deveria ir a Washington.

Apesar da queda nos índices de aprovação do próprio Netanyahu, as pesquisas indicam que a população israelense apoia amplamente a determinação do governo de desmantelar o Hamas como uma força militar em Gaza, o que lhe dá uma motivação para se manter firme contra Washington. Entretanto, as divisões ressaltaram a crescente pressão sobre o governo em nível internacional.

O jornal conservador Israel Hayom, normalmente favorável a Netanyahu, apoiou a decisão de não enviar a delegação, mas disse que o apoio público de Biden era o que Israel mais precisava em um momento em que "a legitimidade de suas ações está se desintegrando a uma velocidade assustadora".

A posição de Netanyahu continua dependente da manutenção de sua coalizão com partidos nacionalistas religiosos de extrema-direita, que se opõem resolutamente a qualquer trégua na guerra ou a qualquer concessão às exigências internacionais de um acordo político de base ampla com os palestinos.