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Até o Bolinho de Fubá? O Custo Brasil que Castiga Nosso Bolso

Publicado 29.05.2018, 12:44
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Morei um tempo fora do Brasil, na Inglaterra e Irlanda. Países que guardam semelhanças entre si em termos culturais (que os irlandeses não me ouçam), mas com enormes diferenças em relação ao nosso Brasil. Apesar de ter aprendido a apreciar o fish and chips inglês e que tenha achado na irlandesa Guinness minha cerveja favorita, eu sempre me considerei um cara bem simples. Um gaúcho e brasileiro típico, de hábitos simples. Quando muitos reclamam da alta do dólar e de seus impactos sobre a viagem para Disney, ou como o carro importado ficou mais caro, ou ainda a problemática do salmão que fica inviável, eu relativizava.

Eu pensava: a Disney não me atrai muito, nem o carro e muito menos o salmão. Enquanto eu tiver aquele bom bolinho de fubá com cafezinho na padaria da esquina, eu estou bem; ou ainda como gaúcho, um bom churrasco com um pãozinho com alho pra acompanhar.

Uma postura meio a lá Maria Antonieta – “se não há pão que comam brioches” – mas às avessas, ou seja, comam o bolinho de fubá e deixem de lado o salmão ou croissant.

Investigando alguns componentes do IPCA que é o principal índice de inflação que temos, descobri que nos últimos 5 anos o fubá teve aumento de nada mais nada menos do que 32%. Pensei comigo: deve ser o preço do milho que ficou mais caro. Na verdade, de maio de 2013 a abril de 2018 (5 anos) o preço do milho no mercado internacional caiu aproximadamente 40%.

Mas ok, se o bolinho de fubá ficou caro é só continuar no bom e velho pãozinho francês. Quentinho, novinho, na chapa, precisas mais? Único problema é que o pãozinho subiu nada mais nada menos do que 40% nesses últimos 5 anos. Só pode ser o trigo pensei eu. Na verdade, o trigo caiu 28% no mercado internacional no mesmo período.

Pensei comigo: ok, terei que ficar apenas no cafezinho mesmo. Mais uma surpresa ingrata: o preço do café torrado e moído teve acréscimo de 37% no mesmo período enquanto no mercado internacional houve queda de 5%.

Mas não tem problema, tudo isso é superável, pois no domingo vou me deliciar com um bom churrasco e esquecer desses infortúnios do dia dia. Mas para minha “má sorte” meu churrasco ficou mais salgado e não foi pelo excesso de sal. Nos últimos 5 anos o preço da carne bovina saltou 43%, num período onde o preço da arroba do boi gordo negociado no mercado internacional subiu apenas 2%.

É o fim! Coisas básicas como um pãozinho, um café, o bom churrasco de domingo ou mesmo o bolinho de fubá tão nosso, cada vez mais castigando o nosso bolso. Deixar a viagem para Disney, o carro importado e o Salmão até dá para aturar, afinal por muito tempo nem tivemos acesso, mas e essas coisas básicas?

O que explica isso? O famigerado “custo Brasil”? Sim.

Mas existe também um componente bem conhecido. Ele está conosco mais do que imaginamos. Ele não precisa de convite, mas senta junto a nossa mesa para compartilhar o café da manhã, o almoço e jantar, está conosco quando vamos ao trabalho, em nossa academia e até mesmo na intimidade de um banho ele pode se fazer presente.

Esse componente é o dólar!

No mesmo período de 5 anos em que os itens básicos que citei aqui subiram em média 30% a nossa taxa de câmbio se depreciou e muito, saindo dos R$ 2,14 para os atuais R$ 3,70. Em outras palavras o dólar ficou 73% mais caro para nós brasileiros. Então nem mesmo a queda 40% no milho conseguiu segurar o preço do fubá aqui dentro.

Itens básicos

Seria exagerado e até leviano atribuir ou atrelar a alta desses produtos básicos única e exclusivamente ao dólar. Existem diversos outros componentes. Mas pense aqui comigo: o fubá é produzido a partir do milho, o qual, em seu processo de cultivo e produção são utilizados fertilizantes e defensivos agrícolas que são, em grande parte, importados dado que não somos autossuficientes em potássio e temos uma indústria química não tão desenvolvida assim. Sua colheita é feita através de máquinas sofisticadas e que fazem do Brasil a potência agrícola, as quais são importadas de grandes empresas como a John Deree por exemplo. Da lavoura ele vai para fábrica transportado normalmente por caminhões movidos a diesel (acredito que está bem fresco na memória de todos os impactos do dólar nos preços dos combustíveis). Chegando a fábrica ele passará por uma série de processos, os quais envolvem a utilização de outras máquinas, as quais me arrisco a dizer que são importadas, afinal não somos conhecidos por uma indústria de bens de capital pujante não é mesmo? Uma vez processado, esse fubá será colocado em uma embalagem de plástico, que nada mais é do que um polímero sintético derivado do petróleo, notadamente cotado em dólar. Uma vez pronto, o fubá é transportado advinha como? Novamente o componente Diesel reaparece na equação.

Podia seguir citando outros exemplos, esmiuçando os processos produtivos para mostrar como é claro o componente dólar na composição dos mais diversos produtos do açúcar utilizado na receita do bolo, o qual, apesar da queda de 29% da commodity no mercado internacional, ficou 23% mais caro no mercado interno; até o mais óbvio Iphone ou perfume Channel. Mas o fato é: o dólar faz parte da nossa vida, em maior ou menor grau, seja ela mais ou menos sofisticada.

A dificuldade é que para grande maioria ele não faz parte da renda. Ou seja, não conseguimos fazer o chamado “hedge” (proteção). Afinal se meu salário fosse cotado em dólares não teria problema algum não é mesmo? Ou ainda, será que meus investimentos estão tão bem protegidos assim sob a égide do CDI?

Hoje em dia a pint de Guinness é ostentação, o fish and chips inglês só nas fotos, mas abandonar o bolinho de fubá, aí é muita sacanagem.

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