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Crise de Junho? Onde? (Ao Menos Até Agora, Claro)

Publicado 11.06.2019, 10:43
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo… (…) O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre — o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!”

Riobaldo era um investidor contrarian, não tenho dúvida.

Rory Sutherland, vice-chairman da Ogilvy e grande amigo de Taleb, também compõe esse timaço. Na quarta capa de seu novo livro, “Alchemy: The Surprising Power of Ideas That Don’t Make Sense”, há frases como: “Ser (SA:SEER3) lógico não paga muito bem se todos os outros estão pensando logicamente”; “O problema com a lógica é que ela acaba com a mágica”; “Uma flor é apenas uma erva com um bom orçamento de marketing”; e “Se houvesse uma resposta lógica, ela já teria sido encontrada”.

Às vezes, é preciso subverter a lógica. Há quem se preocupe com a completa obstrução da pauta no Congresso em meio aos vazamentos do Intercept Brasil, site do jornalista americano Glenn Greenwald. Seria supostamente mais um obstáculo às reformas e um risco aos ativos de risco.

Pois eu penso ser justamente o contrário. Explico o ponto.

O que define uma tendência de alta? Topos e fundos ascendentes. É importante atentar-se à precisão das palavras. Não são apenas topos ascendentes. Há uma relação aditiva aqui. Você precisa também dos fundos para caracterizar a tendência de alta.

Sabe por quê? Porque o mercado precisa passar por momentos de testes (ou seja, em que há uma momentânea pressão vendedora) e superá-los. Ele cai até determinado nível e volta. Só assim vai transmitindo aos compradores potenciais a confiança de que podem, de fato, realizar suas aquisições de ativos de risco, pois estes encontram um determinado nível de suporte. Testam-se convicções e elas são validadas pela observação empírica.

Não dá pra ser aquela coisa meio The Might Mighty Bosstones: “I'm not a coward. I’ve just never been tested. I’d like to think that if I was I would pass. Look at the tested and think there but for the grace go. I Might be a coward. I'm afraid of what I might find out”. O mercado precisa ser testado. E precisa passar no teste. É exatamente isso que tem acontecido desde maio, o que permite a assunção de mais otimismo na margem.

Quando houve uma primeira elucubração de rompimento institucional, catalisada sobretudo por aquele encaminhamento de mensagem pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a ingovernabilidade do país, o que aconteceu na sequência? Uma curiosa e excêntrica aproximação com o Congresso, culminando nas conversas de pacto entre os três Poderes em prol da aprovação das necessárias reformas para devolver o Brasil à rota do crescimento.

Foi a mesma coisa ontem. Representantes do Congresso e também do Executivo apressaram-se em suas manifestações de que as reformas estavam blindadas a qualquer vazamento de conversas do ministro Sergio Moro.

Os “especialistas” correram para cravar uma crise do mês de junho capaz de apagar o otimismo recente nos mercados. Ora, que crise? Uma queda de 0,36 por cento para o Ibovespa é crise? Num dia em que o Goldman Sachs soltou um relatório mandando vender Itaú (SA:ITUB4) e Bradesco (SA:BBDC4), que puxaram o índice para baixo? E que voltou a se especular sobre elevação da CSLL sobre os bancos?

Em paralelo, os juros futuros caíram e o dólar se manteve perto do zero a zero. Ou seja, foi um dia razoavelmente calmo no mercado, com baixo volume, mesmo diante de uma notícia ruim. E mercado calmo diante de notícia ruim costuma ser um dos elementos de um bull market.

Pra mim, podemos estar diante de um caso clássico de antifragilidade, ainda que isso possa soar-lhe contraintuitivo. Aqui, claro, numa perspectiva ceteris paribus, ou seja, de que não haja um eventual novo vazamento megacomprometedor — até agora, sejamos sinceros: não há.

Diante dos fatos e da necessidade de mudar a pauta, o governo pode aproximar-se do Congresso e fazer a pauta das reformas andar com mais celeridade.

Então, ficaria assim: relator apresenta texto da Previdência na quinta. Comissão vota já na semana que vem e encaminha para votação no plenário ainda antes do recesso, para aprovação com mais de 340 votos e economia perto de 1 trilhão de reais. Oposição, totalmente desarticulada, continua chorando pedindo “Lula Livre” e fazendo chicana para tentar bloquear a pauta. Em termos práticos, porém, não consegue interromper a inexorável marcha em direção às necessárias reformas. O país não aguenta mais.

Eu encararia a tal “crise de junho” como uma grande oportunidade, a última antes da aprovação da reforma da Previdência na Câmara e da Selic na casa de 6,5 por cento ao ano (pense no juro básico a 5 por cento!). Depois, os preços serão outros. Próxima parada: 120 mil pontos, B 50 pagando 3,5 anuais e dólar a 3,60.

Antes de partir para as frivolidades do dia, um breve comentário sobre a porção de ofertas de ações em curso. Há cerca de 30 bilhões na rua para ser absorvido até o fim do mês. Primeiro, a pergunta mais geral: existe capacidade de se colocar tudo isso? Entendo que sim. Dinheiro tem. O mundo ainda é de ampla liquidez. Captações privadas têm ocorrido inclusive a valuations bem esticados — veja Softbank avaliando o Nubank em 10 bilhões de dólares. E por aqui fundos multimercados estão nadando em dinheiro, alguns gerindo cifras que nem eles mesmos sonharam. Outros foram lá para fora e deram com a cara no muro. Agora, precisam fazer um “back to basics” e podem voltar a focar em Brasil, tendo nas ofertas de ações uma oportunidade de montar posição sem distorcer muito os preços — veja o que essa turma fez com o mercado de juros em maio. O mercado é um teatro grande com uma porta pequena. Se todos resolvem entrar ao mesmo tempo, rola bagunça.

Comentando casos particulares, a oferta de BTG (SA:BPAC11) é minha favorita. Pricing sai hoje e a tese parece bem interessante. Recompra EFG da estrutura do banco e passa para a holding, causando um duplo efeito sobre o ROE de BTG: i) EFG tem retorno apenas marginalmente positivo; ii) ao retirar EFG do balanço, consome-se menos capital regulatório sobre BPAC, que pode rentabilizar-se mais facilmente a partir do emprego desse capital. Retirando EFG do balanço e assumindo convergência do Pan, ROE de BTG, de acordo com minhas contas, converge para 21 por cento em 2021, quase já contratado. E aí você pega todas as opcionalidades que têm ali dentro como digital, empresa de seguro que já roda a 150 paus/ano de lucro e ninguém está vendo, companhia de data analytics que vai empurrar toda distribuição digital, operação de América Latina com funding muito barato principalmente no Chile. Em outras palavras, o banco puro de investment banking parece bem precificado, mas você leva todas as outras opcionalidades quase de graça, surfando toda a onda de financial deepening e digitalização da economia brasileira.

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