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Não Existe Livro Para Isso - A Queda de Juros

Publicado 04.05.2018, 11:39

Outro dia, um aluno me perguntou por que o Banco Central do Brasil (BCB) não reduziu de uma única vez a taxa SELIC para 6% ao ano. Aceleraria a retomada do PIB e a geração de empregos, que se fazem necessárias.

Lembrei-o que, desde que a atual diretoria assumiu, em 2016, o COPOM vem promovendo uma política monetária expansiva, com redução de mais da metade da taxa SELIC, num horizonte de tempo relativamente curto. Recentemente, em adição, reduziu fortemente os compulsórios bancários, para tentar fazer com que essa queda da taxa básica chegue aos juros “na ponta”, para o consumidor.

Sou professor de Economia há 20 anos. Ensinar determinados tópicos abstratos, sobretudo para alunos muito jovens, que vivem um dia a dia dinâmico e online, é tarefa desafiadora. Mais ainda quando é preciso explicar conceitos importantíssimos que, no entanto, não são observáveis na prática. Por exemplo, dois que estão na “moda”, o hiato do produto e a taxa de juros (neutra) de equilíbrio, são figuras que os economistas estimam, e, porque que as estimam, cada um pode estimar a sua.

Respondi ao meu aluno com outra pergunta: “Será que os violinistas do Titanic tiveram um manual para ensiná-los a agir do jeito que agiram”? O que quis dizer, metaforicamente, é que não existe livro para tudo na vida.

A inflação herdada do governo anterior, de quase 11%, era tão grave que a nova diretoria do BCB, que ora assumia, não poderia se dar ao desfrute de promover experiências inovadoras, fora dos manuais ortodoxos. Como hoje sabemos, a inflação desabou e permanece muito baixa. Ponto para o BCB, que não reinventou a roda e agiu dentro do rigor técnico do regime de metas de inflação.

Voltando aos conceitos, para chegarmos ao hiato do produto é preciso compreender o que é o PIB potencial. Para um leigo, é o produto que a economia é capaz de produzir, utilizando-se a totalidade dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) disponíveis. Nesse caso não haverá ociosidade, a não ser o chamado desemprego natural, quando o trabalhador está desempregado por opção (estudantes, donas de casa) ou por não aceitar receber o salário vigente. Em relação à taxa de juro de equilíbrio, é aquela que a economia praticaria num cenário de crescimento sustentável, sem pressões inflacionárias (ou deflacionárias) significativas.

Para ambos existem metodologias de estimação. Só para citar, o BCB sugere que “uma maneira simples de mensurar a taxa de equilíbrio consiste em extrair a tendência da taxa real de juros da economia (…) a série de swap real de 360 dias, deflacionada pelas expectativas de inflação doze meses à frente…”[1].

O certo é que a queda significativa da inflação colaborou para a redução da taxa de juro SELIC e, mais que isso, o cenário benigno dos preços vem motivando quedas adicionais, além daquelas projetadas lá atrás pelos economistas e analistas de mercado. Nesse contexto, contudo, é chegado o momento de efetivamente avaliar as conquistas, nos patamares presentes, para não corrermos o risco de exagerarmos na dose. Para tal, é necessário entendermos o hiato do produto.

O hiato do produto é a diferença entre o PIB efetivo e aquele potencial. Nesse sentido, o IPEA, em sua carta de conjuntura do 1º trimestre de 2018, estimou o hiato atual em -4,4%. Ou seja, para o órgão governamental, há muita ociosidade na economia, pois estamos praticando um PIB abaixo do que podemos, com os fatores de produção disponíveis. Tal situação indica que a inflação não parece um problema de curto prazo, pois se voltarmos a crescer teríamos (antes) como ocupar a capacidade que está ociosa.

Com o que temos, é provável que se efetive mais uma queda de 0,25 ponto percentual na SELIC, no próximo COPOM. Penso, contudo, que o mais relevante da política monetária já ocorreu. É chegada a hora do fiscal e das reformas associadas, para que tenhamos uma redução perene na taxa neutra, que estimo, atualmente, em queda rumo aos 3%. Sem elas, no entanto, na hora em que o hiato desaparecer (provavelmente no próximo governo), voltaremos às pressões de preços, e o mercado se perguntará pelas reformas. E, para essas, há farta bibliografia.

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