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Os Tentáculos Sauditas no Mundo da Tecnologia

Publicado 05.07.2019, 11:51
Atualizado 09.07.2023, 07:32

A Arábia Saudita - oficialmente denominada Reino da Arábia Saudita - é um país asiático localizado no Oriente Médio que se destaca pela sua produção de petróleo, com um regime político fechado e absolutista. A região é integrante da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), ocupando a posição de maior produtor entre todos os membros, além de produzir gás natural. A violação da liberdade religiosa é uma característica marcante do reino, embasado no fundamentalismo islâmico da ala wahabita, que impede a manifestação em público de outra religião.

Desde março de 2015, a Arábia Saudita está envolvida no conflito militar que decorre no Iêmen, sendo frequentemente responsável pelo disparo de mísseis contra cidades fronteiriças sauditas. Em julho de 2016 aconteceram atentados terroristas em Jeddah, Qatif e Medina, com notícias de ataques bombistas reivindicados pela organização terrorista “Daesh” (“Estado Islâmico”) contra mesquitas xiitas na Província Oriental da Arábia Saudita, junto ao Golfo, com vítimas mortais entre a população local. Mais recentemente, no dia 12 de junho de 2019, houve um ataque de mísseis que deixou 26 feridos, comandado por forças houthis iemenitas – adversárias do reino árabe e alinhadas com o Irã - ao aeroporto de Abha, na Arábia Saudita

Em 5 de junho de 2017, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Bahrein (três países do Golfo), assim como o Egito, decidiram de um dia para o outro cortar suas relações diplomáticas com Catar, acusando-o de “apoiar o terrorismo” e de ser próximo do Irã xiita - grande rival regional dos sauditas sunitas. A crise entre os países fez emergir um “novo” Golfo, dividido e instável, e modificou as alianças tradicionais no Oriente Médio.

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Diante desse contexto de guerra, intolerância e violência retratado no país árabe, características que ocupam quase integralmente a percepção mundial sobre a Arábia Saudita, ficam quase que “escondidas” as ações econômicas do reino de Mohammad bin Salman, 33. O príncipe herdeiro ascendeu ao trono em junho de 2017, propondo reformar o reino ultraconservador enquanto mostra mão de ferro em um contexto de crise aberta com Catar. MBS, acrônimo pelo qual é conhecido, realizou um expurgo sem precedentes nos cargos importantes do governo após a criação de uma comissão anticorrupção presidida por ele, detendo 11 príncipes e dezenas de ministros, atuais ou antigos, além da destituição de poderosos responsáveis militares.

Nos últimos meses, o príncipe lançou reformas que marcaram a maior transformação cultural e econômica da história moderna do reino. Determinado a afrouxar o jugo dos meios religiosos sobre a sociedade, prometeu uma Arábia “moderada”, que praticasse um Islã “tolerante e aberto”. Um sinal concreto disso: as mulheres obtiveram em setembro de 2017 o direito de dirigir, além da abertura para salas de cinema e outros.

Em 24 de outubro de 2017, na conferência Iniciativa de Investimento Futuro em Riad, na Arábia Saudita, o príncipe herdeiro anunciou o projeto NEOM, uma cidade e zona econômica transnacional planejada de 26.500 quilômetros quadrados a ser construída na região fronteiriça entre a Arábia Saudita, a Jordânia e o Egito (através de uma ponte proposta através do Golfo de Aqaba). A iniciativa veio do Saudi Vision 2030, um plano do governo que visa reduzir a dependência da Arábia Saudita do petróleo, diversificar sua economia e desenvolver setores de serviços públicos.

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O consultor Ghanem Nuseibeh disse que a intenção da Arábia Saudita era "passar do petróleo para a alta tecnologia e colocar o reino saudita na vanguarda dos avanços tecnológicos; esta é a era pós-petróleo. Estes países estão tentando prosperar além das exportações de petróleo, e ser aqueles que não serão deixados para trás”. Grande parte dos consultores do projeto é composta por figuras na indústria de tecnologia, como o alemão Klaus Kleinfield, presidente e CEO da Alcoa Inc (NYSE:NYSE:AA). e da Siemens AG (DE:DE:SIEGn), que irá liderar o desenvolvimento da cidade.

NEOM será construída do zero, em penhascos impressionantes, praias arenosas e onde a alta tecnologia é respirada a cada passo, repleta de inovações em infraestrutura e mobilidade, movida exclusivamente a energia eólica e solar. Isso fará com que o número de robôs na cidade exceda o de humanos, de forma que estes desempenhem funções como segurança, logística, entregas ao domicílio e cuidados com as pessoas. Sim, robôs. Talvez você já tenha visto em algum lugar Sophia, o primeiro robô a receber cidadania na história, pela Arábia Saudita.

Ao virarmos o olhar para tal esfera econômica saudita que foge da indústria petroleira, observamos relações inesperadas entre o reino conservador e o mercado tecnológico. O principal fator para essa observação é a relação estreita entre a Arábia Saudita e a corporação multinacional japonesa de comunicações e internet, SoftBank Group Corp.

A multinacional japonesa fundada nos anos 1980 por Masayoshi Son, seu presidente executivo até hoje, tem operações em banda larga, telecomunicações de linha fixa, comércio eletrônico, serviços de tecnologia, finanças, mídia e marketing, design de semicondutores e outras empresas. Foi classificada na lista Forbes Global 2000 como a 62ª maior empresa pública do mundo e a terceira maior no Japão - após Toyota e Mitsubishi UFJ Financial. Entre 2009 e 2014, a capitalização de mercado da SoftBank teve um aumento de 557%, o quarto maior aumento relativo no mundo durante esse período.

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Mais de US$ 60 bilhões foram investidos nos últimos dois anos pela SoftBank, em quase uma centena de companhias de tecnologia. A empresa vem se tornando aos poucos uma “gigante silenciosa” no mercado de tecnologia, graças a apostas agressivas de Masayoshi Son. Hoje, a multinacional tem fatias em algumas das empresas mais relevantes desse mercado - como a Uber (NYSE:NYSE:UBER), sua rival chinesa Didi, o sistema de comunicação Slack e a rede de escritórios compartilhados WeWork. A SoftBank desde seus primórdios mostrou ter uma visão sobre si mesma alinhada com a de uma investidora, como denuncia o próprio nome da empresa.

O império de Son vem incrementando seu foco de investimentos em companhias de tecnologia por meio de um fundo de US$100 bilhões conhecido como Vision Fund. É aí que se encontra a relação com o país árabe: o fundo monetário do reino – PIF (Public Investment Fund) – injetou US$45 bilhões neste primeiro fundo, logo, a Arábia Saudita detém 45% deste primeiro fundo da SoftBank, que disse que também apoiará o projeto de energia solar de US$ 200 bilhões do reino.

A relação entre as duas entidades chega a ser bem pessoal: em setembro de 2016, Mohammad bin Salman - que ainda não se encontrava no trono - encontrou-se com Masayoshi Son em Tóquio. O bilionário japonês plantou a ideia de instalar o maior fundo de investimentos na história para financiar start-ups da área de tecnologia, e desde então disse que convenceu o homem que se tornou o governante de fato da Arábia Saudita em 45 minutos: “Um bilhão de dólares por minuto”. O príncipe Mohammad controla o PIF e demonstrou interesse em usá-lo para modernizar a economia e a diversificar para longe do petróleo.

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Cerca de metade dos US$ 45 bilhões prometidos já foram utilizados pelo Vision Fund em investimentos feitos por este em empresas tais quais Uber, Doordash, WeWork Cos. e Slack Technologies Inc. A principal questão, de âmbito moral, é aquela que abrange a concepção desses investimentos: quando a Uber recebe investimentos da SoftBank por meio do Vision Fund., está recebendo em parte dinheiro da Arábia Saudita, uma nação mundialmente conhecida pelo seu absolutismo com pouquíssimo respeito aos direitos humanos. Além da moralidade questionável da empresa, vem também a questão sobre a própria população mundial: nós, consumidores dessas companhias tecnológicas, não deveríamos estar nos posicionando também?

A Arábia Saudita é um dos principais investidores do Vale do Silício. Algumas fotos divulgadas pela mídia mundial demonstram a proximidade de MBS com os principais presidentes de empresas de tecnologia. Google (NASDAQ:NASDAQ:GOOGL), Amazon (NASDAQ:NASDAQ:AMZN), e Facebook foram três dessas que tiveram seus representantes em encontros com o príncipe, em uma dinâmica passível inclusive de ser chamada de casual. Jeff Bezos, presidente e fundador da Amazon, com o posto de pessoa mais rica da história da humanidade e também dono do jornal americano Washington Post, encontrou-se com o príncipe em março de 2018 para discutir possibilidades de parceria entre a Arábia saudita e a Amazon.

No começo de 2019 emergiu um escândalo entre as duas partes, no qual teria ficado concluído que os sauditas tiveram acesso ao telefone de Bezos e obtiveram informações privadas do homem mais rico do mundo. Entretanto, o principal ponto moral colocado no cenário dessa pretendida parceria se dá pela morte e esquartejamento de Jamal Khashoggi, jornalista do Washington Post de Jeff Bezos e crítico ao governo saudita, por membros do alto escalão de Riad em 2 de outubro do ano passado, enquanto estava na embaixada saudita em Istambul. A inteligência americana aponta Mohammad bin Salman como mandante do assassinato, embora o presidente Donald Trump – defensor do príncipe saudita – se recuse a relacionar o aliado ao crime.

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Na esteira de tantas polêmicas com violação dos direitos humanos com as quais a Arábia Saudita e seu príncipe estão envolvidos, a aproximação destes com as empresas de mídia e coleta de dados, que formam a infraestrutura social econômica do século XXI, abre um espaço para o medo. Quanto essa relação entre um reino absolutista e violento e companhias midiáticas podem influenciar na nossa vida, naquilo que nos é informado? A possibilidade do futuro controle saudita sobre algoritmos de visibilidade das redes sociais com a intenção de acobertar absurdos do governo já está sendo colocada por alguns como preocupante.

A dominação da Arábia Saudita sobre o mundo tecnológico deve ser mantida sob observação meticulosa, pois a fraca visibilidade abre espaço para grandes e importantes ações que podem não ocorrer de forma correta e respeitosa à população mundial. Além disso, a observação moral intrusiva, de âmbito individual, sobre o nosso próprio consumo se faz importante em um contexto no qual importantes empresas presentes na rotina atual das pessoas estão envolvidas de certa forma com o governo saudita e automaticamente, com as suas ações.


Escrito por: Ana Bárbara Tsivum

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