Na semana passada, eu falei sobre ser contrarian, nadar contra a maré, não ser “Maria vai com as outras” e como isso pode ajudar a fazer o básico do básico: comprar na baixa e vender na alta, aproveitado o movimento de manada para se dar bem.
Hoje vou te aconselhar sobre como não escolher ações, mas que, ao mesmo tempo, vai te ajudar a fazer as melhores escolhas. Mas, antes, deixa eu te contar uma historinha.
Na função de home office e de gravar as aulas de investimentos, lá fui eu pensar em um cenário legalzinho para o meu apê-alugado-sem-decoração-alguma-em-São-Paulo. Vim para a capital paulista com uma mentalidade de que estava aqui só para trabalhar, então, decoração para quê? Mas ela se fez necessária.
Como uma boa pão-dura que sou, lá fui eu: Mercado Livre > planta de plástico > ordenar > do mais barato para o mais caro > encontrei > costela de adão > comprar!
E foi aí que chegou aqui em casa uma linda costela de adão (espécie já bem conhecida entre amantes de plantas) em MINIATURA, logo no dia da gravação.
Hoje eu vou lhes apresentar, meus amigos, o conceito de value trap: ações que parecem baratas, mas que não são uma boa opção para você investir. Em português, seria algo como “armadilha de valor”.
Acontece que muitos investidores desavisados recorrem ao famoso “filtrão de múltiplos” no Excel, exatamente como eu fiz no Mercado Livre (NASDAQ:MELI), fazendo uma lista de ações, ordenando por determinado múltiplo, como Preço/Lucro, e comprando aquelas que estão mais “baratas”.
O problema disso é que você está comprando da mesma forma que eu fiz no Mercado Livre: sem ler as características do seu produto. É um jeito mais rápido e fácil, sim, mas você pode estar levando gato por lebre. Na grande maioria das vezes, quando o P/L está barato demais… algo há de errado. É como aquele ditado: quando a esmola é muito grande, o santo deve desconfiar.
Provavelmente, se você ler a descrição da empresa, mergulhar nas características dela e estudar para fazer uma tese de investimentos, vai entender por que os investidores estão dando um desconto tão grande nos múltiplos da companhia.
Se, após estudar o case e fazer a sua tese de investimentos, você não encontrar nada de estranho que justifique aquele desconto: voilà! Você deve ter encontrado, de fato, uma oportunidade de investimento.
Mas entendeu a importância de ler a descrição? De fazer a lição de casa? De estudar a empresa?
Tudo isso dá trabalho e é por isso que, em geral, analistas de investimentos são bem qualificados e trabalham muito para estudar e te informar as melhores opções. Se fosse só fazer um “planilhão” de um ranking de múltiplos, a profissão nem existiria mais. Mas, pelo contrário, ela costuma ser bem valorizada.
Minha dica de hoje, então, de como não escolher ações é: não olhe apenas os múltiplos. Eles são uma boa bússola, mas não te mostram o mapa completo.
Agora, a minha orientação do que você deve fazer é: estude a fundo a empresa, o seu mercado e elabore uma boa tese de investimentos. Ela deve conter: Oportunidades, Ameaças, Pontos Fracos e Fortes. Ao final disso tudo, eu te garanto, você terá sua cabeça mais organizada para tomar uma decisão.
Caso esteja sem tempo (ou com preguiça) para fazer todo esse trabalho, contrate um serviço profissional, invista em um bom fundo de investimento gerido por um excelente gestor, que estará acompanhado de analistas fantásticos, ou então assine o serviço de uma casa de análise. Ou você tem dúvida de que um decorador providenciaria um arranjo melhor do que eu comprei na internet? E que, aliás, não deu nem pra usar.
Em tempo: acho que minha opinião sobre São Paulo ser um local só para trabalhar está cada dia mudando mais… É uma bela cidade.