Por Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - A processadora de soja e produtora de biodiesel Bianchini foi forçada a suspender as operações em Canoas, uma das cidades mais afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, já que teve um armazém com 100 mil toneladas da oleaginosa atingido pelas inundações no local.
Segundo Gustavo Bianchini, diretor corporativo da empresa familiar, a infraestrutura de armazenamento de biodiesel e de óleo de soja da companhia não apresenta vazamentos, apesar das enchentes.
A fábrica de processamento de soja da Bianchini em Canoas ficará parada até que as águas baixem, disse ele à Reuters por telefone. Ainda não está claro quanto da soja do armazém poderá ser utilizada no processo produtivo, uma vez que ainda existem entre 30 cm e 70 cm de água no local, informou.
O executivo disse que os armazéns da empresa em Canoas podem guardar cerca de 400 mil toneladas de grãos, mas não estavam totalmente cheios. Se diferente fosse, os prejuízos seriam mais altos, ele disse.
Ainda assim, Bianchini disse que a soja atingida pela inundação "dobrou de tamanho", pressionando algumas paredes da estrutura de armazenagem. Ele confirmou a autenticidade de uma foto que circula em redes sociais mostrando a soja irrompendo pelas paredes do galpão.
Carlos Cogo, consultor de grãos, afirma que grande parte da soja em armazéns inundados poderá será perdida ou receberá classificação de baixa qualidade.
No sul do Estado, a unidade de processamento de soja da Bianchini em Rio Grande e o terminal portuário da empresa funcionam normalmente, relatou o diretor.
Pelo terminal da empresa em Rio Grande, passam entre 70% e 80% do farelo de soja exportado do Rio Grande do Sul, ele disse.
ÚNICA ATINGIDA
A fábrica da Bianchini em Canoas tem capacidade para processar 2,5 mil toneladas de soja por dia, enquanto a unidade de Rio Grande esmaga 3,4 mil toneladas, disse o executivo.
Segundo informações da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel, a Bianchini foi a única das nove unidades produtoras do setor no Rio Grande do Sul a parar temporariamente as operações por conta dos alagamentos.
O biodiesel no Brasil é feito majoritariamente de óleo de soja.
Por conta das inundações no Rio Grande do Sul, a agência reguladora do setor de combustíveis, a ANP, chegou a reduzir temporariamente a mistura de biodiesel no diesel em todo o Estado do Rio Grande do Sul.
Para o presidente da Frente, o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), a decisão de flexibilizar a mistura "apenas beneficiou o setor de combustíveis de origem fóssil, que vai vender mais seu produto, ao deixar à livre escolha não atender à mistura obrigatória de 14% de biodiesel, pelo período de 30 dias".
A entidade defendeu que a ANP revisse sua decisão, e nesta sexta-feira a autarquia decidiu reduzir a abrangência da flexibilização temporária da mistura para apenas quatro municípios (Canoas, Esteio, Rio Grande e Santa Maria).
BUNGE
Por conta do alto nível das águas, a Bunge (NYSE:BG) informou que suspendeu temporariamente as atividades de sua unidade de esmagamento de soja e de seu terminal portuário na cidade de Rio Grande (RS).
A suspensão das atividades, desde quinta-feira, é medida preventiva e foi tomada em razão das previsões de possíveis cheias na região nos próximos dias, disse a trading e processadora global de commodities agrícolas.
(Com reportagem adicional de Roberto Samora)