Investing.com – A inflação ao consumidor brasileira possui mais riscos baixistas do que altistas em 2024. É assim que avalia a Warren Investimentos, que cortou a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano de 4,4% para 4,2%, em meio a pressões menores em alimentação, com maior disponibilidade de carne bovina, segundo informou Andréa Angelo, estrategista de inflação, em entrevista exclusiva do Investing.com Brasil.
Além desse fator, um câmbio mais apreciado, petróleo abaixo de US$80 e inflação global de bens mais benigna, além de possíveis medidas baixistas no setor elétrico e riscos do fenômeno climático El Niño também podem levar a um indicador menor. Por outro lado, uma piora da inflação subjacente e reajuste maior em alguns cursos estão entre os possíveis fatores que podem fazer o indicador subir novamente.
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A Warren espera que o IPCA tenha apresentado elevação de 0,49% em dezembro, diante de alimentação com preços mais altos e devolução dos descontos da Black Friday. Assim, a projeção, fechando 2023, é de 4,55%.
Além disso, a Warren não espera aceleração do ritmo de cortes na taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, no aguardo de novas diminuições em igual magnitude das anteriores, em meio ponto percentual. A projeção é de que a Selic atinja 9% na reunião de junho.
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Confira a entrevista na íntegra:
Investing.com – Como avalia o processo de desinflação em 2023?
Andréa Angelo – A inflação deve encerrar o ano em 4,55% em nossa visão, vale lembrar que a a inflação em 2022 era de 5,78% e a desinflação que ocorreu foi até maior, a inflação de 2022 teria encerrado mais próximo de 8% segundo nossas estimativas, se não fossem as desonerações na gasolina, os ICMS da energia, PIS Cofins, mas também por toda a parte de oferta.
Foi uma desinflação muito pautada por oferta, principalmente oferta de alimentos. A gente teve super safra de grãos, a parte de proteínas teve uma ajuda muito grande das matrizes de oferta. Outra desinflação por oferta muito relevante que a gente viu em 2023 foi a parte de bens. A China, a maior fábrica do mundo, haviam fechado, e em 2022, então a gente teve muitos problemas em cadeia naquela parte dos bens duráveis, automóveis, eletrônicos, os semicondutores.
E isso tudo desinflou muito rápido quando teve essa normalização e o mundo teve mais oferta de matérias-primas. E isso ajudou também nessa desinflação. Ainda, quando deixamos inflações de dois dígitos, há um reflexo muito grande, o que a gente chama de indexação. Então, quando ela cai rapidamente, essa inércia é mais baixa, também ajuda essa parte de serviços.
Investing.com – Warren Investimentos reduz projeção do IPCA para 2024. Porque houve redução e quais principais riscos baixistas e altistas?
Angelo – Em 2024, revisamos de 4,40% para 4,20% a projeção, principalmente, por conta de alimentação, que estava mais alta. A gente tinha o reflexo do El Niño mais forte, ele é muito inflacionário, com um excesso de chuvas em alguns locais e falta em outros. Então isso tudo é bastante inflacionário, a gente tinha um efeito de El Niño mais inflacionário do que a gente está vendo, porque uma parte dele veio em 2023, no final do ano a alimentação deixou a deflação de três meses seguidos. E aí a outra parte ficou para 24. Mas para as proteínas, a ajuda continua em 2024, com uma oferta maior de bovinos.
Em 2024, quando a gente pensa em sensação térmica, a sensação térmica hoje é de uma inflação com mais riscos baixistas do que altistas. O primeiro risco baixista é o câmbio, então a gente vê o real mais apreciado, talvez a gente tenha um câmbio que está se mostrando, um real mais fortalecido, mais perto da casa de R$4,80, com uma visão até de uma inflação mais baixa, isso ajuda muito o que a gente chama de inflação importada.
Além disso, inflações externas no atacado da China, inflação de atacado nos Estados Unidos, está muito baixinha ainda. Isso ajuda muito um segundo momento de desinflação por oferta nessa parte de bens para 2024, que não é o que a gente está esperando. Sobre o petróleo, ele pode ficar mais perto da casa de US$75 barril, que também traria um viés para baixo nas nossas projeções.
Ainda, o El Niño não parece que teria um risco altista tão relevante assim na inflação como previsto anteriormente. Algo mais volátil, de menos quebra de safra, a partir das de hortaliças in natura, pode ter alta agora e depois voltar. E isso traz também um viés baixista para nossa projeção que viria do efeito climático, desse excesso de chuvas que prejudica a inflação.
Outras medidas que a gente vê que podem também ajudar um pouco na inflação de 2024 são do setor de energia. Muitos dos discursos do ministro de Minas e Energia e do próprio presidente Lula apontam a necessidade de uma reforma estrutural dentro do setor. A gente entende que eles querem dizer que mercado livre de energia poderia pagar um pouco mais do que os consumidores residenciais, isso pode trazer a inflação para baixo também.
Então são esses pontos: gasolina, câmbio, inflação importada via preços ao atacado lá de fora, China, Estados Unidos, essa inflação mundial mais benigna e essas possíveis medidas no setor elétrico podem trazer a inflação mais de médio prazo para baixo. Outros riscos mapeados no curto prazo estão reajuste mensalidade escolar, pagamento de IPVA, licenciamento. Cada um é de um lado, e acaba ficando meio neutro.
Investing.com – Como avalia que serão os próximos passos da política monetária diante desse processo de desinflação? A Warren espera cortes maiores? Se sim, quando?
Angelo – A gente não espera aceleração do ritmo de cortes, ainda há muitos riscos para o movimento de mercado mesmo. Estimamos uma Selic de 9% em meados do ano e, em 2025, pode chegar a uma Selic de 8,5%. Acreditamos que o Banco Central está olhando lá fora como o Fed vai reagir e se há algum prêmio de risco embutido nessa precificação externa, de curva de juros.
Além disso, a própria comunicação do BC demonstra que ele está se mostrando cauteloso e esperando porque as expectativas de inflação, ao avaliar o horizonte do BC, o horizonte principal ainda é 2024. Então o foco está lá, em 3,90%. 2025 vai passar a ser o horizonte de política monetária do BC a partir da segunda reunião desse ano, que é a de março. Então, nessa reunião, ele passar a olhar o horizonte e a expectativa de inflação de 2025 está em 3,5% no Focus. Isso é um ingrediente precioso e super importante para o modelo do BC. Enquanto não tiver desacelerando, indo em direção às metas, o BC tem que ser cauteloso mesmo e olhar e atentamente. Ou seja, não tem como acelerar o ritmo de corte com inflações acima da meta.