Por Geoffrey Smith
Investing.com – A gigante do vestuário esportivo Adidas (OTC:ADDYY) se despedirá do seu principal executivo, Kasper Rorsted, no próximo ano, buscando um "reinício”, após uma extenuante pandemia que lançou sérias dúvidas sobre seu modelo de negócios.
O grupo disse que a decisão foi resultado de um acordo mútuo e que Rorsted permanecerá no cargo até apontar um sucessor.
Rorsted esteve à frente de uma grande retomada da empresa alemã nos três anos antes da crise sanitária, quase triplicando o preço da ação da empresa até junho de 2021. No entanto, a companhia foi duramente afetada por sua dependência às cadeias de fornecimento na Ásia, gravemente prejudicadas por fechamentos de fábricas na Indonésia e Vietnã, além de gargalos no setor de logística nos últimos dois anos.
Seus problemas foram acentuados por um boicote dos consumidores a seus produtos na China, que agora é o maior mercado de vestuário esportivo, de acordo com algumas estimativas. A Adidas substituiu sua diretoria na China em março, após um declínio de mais de 15% em resposta aos esforços de se distanciar da região produtora de algodão de Xinjiang. Sua expectativa é que as vendas de todo o ano no país registrem queda de mais de 10% em relação aos níveis de 2021, em profundo contrate com o crescimento vigoroso das vendas em outros dois mercados-chave, América do Norte e Europa.
A ação da empresa atingiu a mínima de cinco anos no mês passado, depois de ela dizer que a receita só subiu 4% em moedas constantes no último trimestre, enquanto a receita líquida caiu 7% no ano, permanecendo estável por conta de um efeito tributário em euros. Às 13 h (horário de Brasília), os papéis da Adidas registravam queda de 5,6% em Frankfurt, retestando a mínima.
Governos ocidentais expressaram repetidas preocupações com o uso disseminado de campos de concentração e condições de trabalho escravo impostas a chineses não étnicos na região predominantemente muçulmana. Isso fez com que as empresa ocidentais que operam na China se vissem em um fogo cruzado, incapazes de obsevar os padrões ocidentais de trabalho e de seleção de fornecedores, sem ofender o sentimento nacionalista em seu maior mercado de crescimento.
Ainda que a Adidas tenha cedido à pressão para não usar o algodão de Xinjiang, concorrentes locais, como Anta e Li-Ning, aumentaram sua participação de mercado local anunciando o uso do produto. Mesmo depois disso, pesquisadores da Alemanha identificaram a presença do algodão de Xinjiang em produtos da Adidas, além da Puma (OTC:PMMAF) e da Hugo Boss (OTC:BOSSY).
Antes da escalada dos problemas da Adidas, o conselho havia estendido o contrato de Rorsted até 31 de julho de 2026.