Mesmo com as turbulências no cenário econômico que reduziram o apetite de investidores mundo afora, o setor da construção ainda tem uma avenida longa e aberta para atrair aportes em negócios que destravem novas formas de construir, comprar, decorar, gerir e financiar imóveis.
É nisso que acreditam os sócios Marcus Anselmo e Bruno Loreto, que estão à frente da Terracotta Ventures, gestora de recursos especializada em startups do setor. A companhia está se preparando para iniciar a captação de R$ 300 milhões até 2025 para investimentos em startups promissoras.
Para isso, acabam de firmar parceria com o GRI, clube de negócios que reúne a nata de empresários do mercado imobiliário de mais de cem países. Juntos, Terracotta e GRI vão montar um bureau de inteligência para mapear tendências de negócios e startups promissoras, bem como conectá-las às grandes empresas decididas a apostar nessas jovens operações.
"O mercado da construção está mais afeito à tecnologia, mas ainda está atrasado na implementação. Só que têm surgido novas empresas, e hoje nós contamos com opções de venture capital. Então, acredito que há uma tempestade perfeita", analisou Anselmo, em entrevista.
Apesar da queda nas injeções de capital em startups, o setor da construção tem se diferenciado, segundo o sócio da Terracotta. Ele contabiliza R$ 695 milhões em aportes do mercado em proptechs e construtechs no primeiro semestre de 2022, alta de 64% na comparação com o mesmo período de 2021, quando ficou em R$ 424 milhões.
Uma das startups que atraiu as atenções do mercado foi a InstaCasa, que faz projetos arquitetônicos para loteamentos. A novata recebeu R$ 15 milhões em um aporte liderado pela G5 Partners e acompanhado pela Terracotta e pela Gerdau (BVMF:GGBR4).
Por outro lado, o total de novatas a receber investimentos caiu. Foram 15 transações na primeira metade do ano, um recuo de 35% perante as 23 do mesmo período do ano passado.
"Vimos que diminuiu a quantidade de investidas, mas aumentou o valor dos investimentos", disse Anselmo, ressaltando que os investidores estão mais seletivos, mas ainda dispostos a colocar dinheiro em negócios bem geridos e com potencial consistente de crescimento. "Mas mesmo com alta na taxa de juros e cenário macroeconômico confuso, a inovação em construção ainda está no começo e com muito espaço para crescer".
Essa mesma visão motivou o GRI a se dedicar mais ao campo da inovação, afirmou o presidente local do clube de negócios, Gustavo Favaron. "Um tema que aparece entre as principais preocupações de empresários nos últimos anos é a tecnologia. Eles querem saber que tipo de disrupção pode impactar os negócios tanto de forma positiva quanto negativa, ou seja, o que pode ajudar as empresas ou até mesmo tirá-las do jogo", disse.
O GRI tentou montar um braço próprio para analisar tendências de inovação e mapear oportunidades de investimentos, mas viu que era preciso contar com profissionais especializados para isso. Daí a aliança com a Terracotta foi firmada. Por sua vez, a gestora terá contato com empresários do mercado imobiliário dentro e fora do Brasil, como Brookfield, Blackstone, BlackRock (NYSE:BLK), Tishman, Hines, Gazit, WeWork, entre outros. Mais adiante, as parceiras também vão desenvolver formas de compartilhar receitas pelo serviço de conexão das startups aos investidores.
Se a iniciativa der certo, representará um salto para a Terracotta, que foi fundada em 2019 e, desde então, captou R$ 53 milhões junto a pesos-pesados como Cyrela (BVMF:CYRE3), Gerdau, Vedacit e São Carlos (BVMF:SCAR3), para aportes em 11 construtechs e proptechs, entre elas Yuca, Livance e Approva Fácil.